É possível amar e é possível amar. Uma pessoa não ama do mesmo modo da outra, assim como não sente qualquer coisa do outro modo da outra. A comparação entre sentimentos é algo impossível pelo nível de importância que cada um tem numa moral formada por padrões mutáveis. Nessa batalha entre sentimentos homônimos, entram valores como o casamento, o namoro, o sexo. Sinceramente, parece clichê? E é. É uma guerra dos sexos, focando em relacionamentos desgastados, novos ou enterrados, mas que favorecem ao público a visão romântica da esperança que nunca acaba. Amor a Toda Prova é isso, e incrivelmente não soa como um déjà vu para a plateia.
"Em 3 vamos dizer juntos o que queremos, OK? 1, 2, 3: Crème Brûlée!" "Divórcio!". Cal Weaver (Steve Carell) é um quarentão que só manteve um relacionamento a sua vida inteira. É casado com a mulher que ama, tem ótimos filhos e um bom emprego. Mas, numa noite, ele acaba descobrindo que sua esposa, Emily Weaver (Julianne Moore) quer a dissolução do casamento e que o traiu. Desiludido, ele percebe que Emily era a mulher de sua vida e entra numa crise ao ver todos os seus anos se encerrando. Paralelamente acompanhamos a história de Jacob Palmer (Ryan Gosling), um jovem com estilo que consegue uma mulher diferente a cada noite. Quando Cal está em sua crise, Jacob decide ajudá-lo a seguir em frente com a arte de paquerar mulheres.
O principal do longa-metragem é a delineação realista que ele faz dos personagens. Primeiramente há o conflito principal que acaba gerando os secundários no longa: o divórcio de Emily e Cal. Cal ainda é o bobo apaixonado que vive no seu mundo pré-adolescente. Confortável na sua fantasia de amor ilusório, numa zona de conforto da paixão, ele não viu que seu casamento estava estagnado num nível de amor satisfatório para o marido, mas insatisfatório para a esposa. E aí entra a visão do homem de "onde foi que eu errei?". Vivendo as paixões que deixou paralisadas durante todos esses anos de fidelidade monogâmica, ele descobre que sua felicidade não está contida em levar uma mulher para casa toda noite e depois dispensá-la. A idade já passou, sua noção de felicidade foi-se embora junto com Emily, seus tênis surrados e sua carteira de velcro. Steve Carell faz um personagem parecido com qualquer outra coisa que já tenha feito em outras comédias, mas que mantém uma graça momentânea. De um modo ou de outro, ele completa as cenas em que aparece misturando realidade e comédia, rindo do próprio esteriótipo. Julianne Moore é uma atriz versátil, fica bem em qualquer personagem e aqui não foge à regra. Por menos que apareça, para dar vazão ao romantismo masculino, ela ainda é uma presença gratificante no elenco, que não sai do personagem em momento algum e se adapta à todas as situações da mulher indecisa.
Jacob Palmer é o outro lado da moeda. É um homem que nunca precisou se preocupar com um relacionamento estável e que vive a vida que Cal nunca teve. Se ele gosta dessa vida? Impossível dizer que não. Jacob respira sua arte pessoal de conquistar garotas, o que não é pra menos. Ele usa cada medida de seu charme por meio de roupas bonitas, um corpo malhado, um sorriso galanteador e uma promessa de uma noite inesquecível que qualquer mulher num raio de 2 quilômetros tem de sentir como é passar uma noite com ele. Mas ainda há aquela esperança do fundo: uma mulher fixa. Enquanto ele vive sua vida ininterrupta de alternância de companheiras, há um dilema em sua vida. Onde está a mulher dos seus sonhos, que acabará com o fogo do galã? Entra em cena Hannah, personagem de Emma Stone, a única mulher que parece não sofrer a influência de Jacob, que sonha com uma vida monogâmica com o namorado. Sem traições ou noites de aventura. O encontro de duas personalidades tão distintas estabelece um novo objetivo para Jacob que acaba entrando em conflito: quem vai ter de mudar para agradar o outro numa possível vida amorosa? Considero tanto Ryan Gosling quanto Emma Stone dois atores promissores. Ele já conseguiu me emocionar mais de uma vez em filmes como A Garota Ideal, Namorados Para Sempre ou Diário de uma Paixão. Ela me faz rir de uma maneira verdadeira e mostra um carisma e beleza tão grandes que sua presença é deliciosa.
Para completar os casais, temos uma paixão adolescente protagonizada por Robbie, interpretado pelo divertido Jonah Bobo, o filho de Emily e Cal. É uma criança de 13 anos que se vê amando sua babá de 17, a desengonçada Jessica Riley (Analeigh Tipton). E o que realmente leva a plateia aos risos é a força de persuasão e a insistência que o menino tem para conquistar aquela que ele diz ser sua alma gêmea. Como se diz a uma criança que ela não sabe o que é o amor se ela ainda não viveu o bastante para compará-lo com um sentimento de um adulto? Tudo é amor em Amor a Toda Prova. O amor para uma criança pode ser menos intenso do que para um adulto, mas não se nega que é amor. Que se negue outras coisas, mas não a beleza da afirmação de uma relação de entrega. Completando o elenco, temos Kevin Bacon fazendo um personagem que se apaga em cenas e fica escondido atrás de nomes como Moore ou até mesmo Carell. E há também Marisa Tomei, fazendo uma personagem tão caricata que, se não levasse o público às lágrimas de riso devido aos seus jargões, poderia comprometer o realismo do filme.
A dupla de diretores, que já tinha feito O Golpista do Ano, acerta no tom romântico, cômico e dramático colocado no peso de Amor a Toda Prova. Não é um filme necessariamente feliz o tempo inteiro, é um filme que prega por mostrar as relações como elas são, assim como muitas outras pérolas espalhadas atualmente. Mas talvez o elemento secreto do longa-metragem seja um elenco de peso, com interpretações dignas, um roteiro divertido e que não cai e que abusa dos clichês do gênero até se dizer chega. É uma interpretação diferente de comédia romântica para comédia romântica, do mesmo modo que o amor de um muda para o amor de outro. É um filme bom e divertido à seu modo.
NOTA: 8