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31 de julho de 2010

Queime Depois de Ler (2008)

Um filme dos irmãos Coen com Brad Pitt, George Clooney, John Malkovich, Tilda Swinton e Frances McDormand.

Joel e Ethan Coen fazem simplesmente os melhores filmes de comédia da atualidade. Não porque eles abusam do clichê e do escrachado para criar gargalhadas que já ficaram bem forçadas, e sim porque ele ironizam o clichê e o escrachado para criar situações novas e imprevisíveis, e garante o humor de quem acompanha as alfinetadas desde o começo do filme. Com seus personagens estereotipados, com situações imprevisíveis que beiram tanto a realidade que chegam a ser impensáveis no mundo cinematográfico, eles não criam um outro mundo, mas se utilizam do nosso para fazer o público rir da pior forma deles mesmos.
Osbourne Cox (John Malkovich), um agente da CIA, é demitido por um suposto "abuso de álcool" e decide escrever um livro sobre as suas memórias. Ao saber disso, sua mulher Katie Cox (Tilda Swinton), começa a pensar num divórcio e espiona a conta de seu marido para poder ficar numa boa situação financeira com seu amante, Harry Pfarrer (George Clooney), um homem que trai compulsivamente a mulher. Porém, o CD que tinha todos os dados sobre a conta de Osbourne fica numa academia e Linda Litzke (Frances McDormand) e Chad Feldheimer (Brad Pitt) o encontram, e acham que estão com um segredo de Estado nas mãos. Com isso eles começam a chantagear Osbourne para ganharem uma recompensa e para Linda fazer todas as suas 5 cirurgias plásticas.
O cidadão de cada dia e as situações que já viraram um paradigma ironizados que dão sentido à essa história sem sentido. A mulher que quer cuidar de seu corpo e fica alucinada nas cirurgias que vão "mudar a sua vida", a mulher que não consegue ter relacionamentos, o homem que trai compulsoriamente, o homem paranóico, o alcoólatra, o fortão sem cérebro, tudo junto resulta no Queime Depois de Ler. Além disso, coloque as situações mais inesperadas que você pode pensar. Normalmente num filme de comédia normal, quando um homem acha outro no armário, ele se assusta, eles começam a bater um papo e rola uma intimidade incrível, por mais que ele esteja no armário dele. Me limito a dizer que isso não ocorre nesse filme.
A atuação está ótima, com esse grande elenco também. Me apaixonei por Frances McDormand, que constituiu uma razão sem pé nem cabeça na hora de chantagear o Osbourne, e por George Clooney, que fez um personagem estereotipado com alguns tiques fantásticos. Brad Pitt e John Malkovich não ficam atrás, foram ótimas atuações. Tilda Swinton não me surpreendeu, mas fez um bom papel. Ótima trilha sonora por Carter Burwell, o filme não seria o mesmo sem ela.
Os irmãos Coen usaram mais uma vez seu brilhantismo, pois viram que as comédias de hoje em dia cometiam tantos erros cronologicamente e criavam tanto surrealismo que estavam virando algo como um entretenimento passageiro. E eles usaram o real e o dia a dia até ele ficar cômico e não virar algo passageiro, e sim um filme para ser lembrado.
NOTA: 9

27 de julho de 2010

Teeth (2007)

Um filme de Mitchel Lichtenstein com Jess Weixler.

Teeth é o tipo de filme feito para entreter com uma história criativa e com uma tentativa de terror que mais gera risos, mas não é o filme feito para passar nas tardes de sua emissora favorita. É o perfeito filme trash irônico, sem nenhum atrativo técnico, apenas com suas piadas e sarcasmos ao todo, com situações tão surreais e nojentas que chegam a ser cômicas.
Dawn (Jess Weixler) é uma adolescente que promove um grupo de abstinência sexual. Ela usa aneis de castidade e espalha sobre o quanto o sexo é comprometedor, e apenas acabará com isso quando entrar num relacionamento que ela tanto espera. Quando um garoto se interessa por ela, ela acaba correspondendo e sua pureza entra em jogo, mas ele não sabe que Dawn tem sua próprias armas: a garota tem uma vagina dentada.
A história é engraçada, aos poucos. Algumas cenas merecem realmente ser vistas, quando a menina vai se consultar no ginecologista é hilário. E quando ela aprende a usar a vagina dela e a castrar os homens de propósito, adorei. Mas nada que faça sua vida mudar de uma hora para outra, nada que traga uma frase bem filosófica sobre o sentido da vida e tudo mais. Teeth é feito para quem gosta de rir vendo uma mutilação peniana, e ele usa tanto o seu recurso cômico que o resto do filme parece ser superficial se comparado a ele. As ações vão acontecendo sem nenhum sentido, os efeitos vão se perdendo aos poucos e os personagens se apresentam de um modo tão confuso que isso poderia até comprometer o filme, mas Lichtenstein é inteligente o bastante para apenas se focar em pênis arrancados.
A atuação é bem falsa, mas até gostei de Jess Weixler depois que ela teve uma relação sexual. Ficou com uma expressão perfeita entre o "me estupraram" e "minha vagina arrancou o pau do cara". E o riso dela no fim do filme já vale por ele. Além disso, a fotografia e a trilha sonora merecem uma ressalva, mas nada que gere alguma premiação.
Teeth é falso, mal elaborado e mal se pode observar algum sentido entre os acontecimentos do filme. Mas ele se salva por ser um trash, o que permite que ele mate quantas pessoas quiser com os recursos mais cômicos e trágicos que ele quiser, a história é feita para isso, não para ser indicado a algo.
NOTA: 5

25 de julho de 2010

V de Vingança (2005)


Um filme de James McTeigue com Hugo Weaving e Natalie Portman.

Um filme de ação, com um roteiro viajante, com um cenário que mais parece um quadrinho e com diálogos filosóficos sobre assuntos que passam despercebidos pelo cotidiano. Nisso, V de Vingança se parece como um Watchmen ou um Batman: O Cavaleiro das Trevas. O que faz ele se diferenciar é o fato de ter uma crítica forte dentro de toda essa história, e por mais anarquista que seja, consegue deixar bem claro do que o filme se trata quando você vê do começo ao fim.
Numa Inglaterra do futuro, um chanceler chamado Adam Sutler (John Hurt) cria um regime totalitário, onde são necessárias medidas drásticas para controlar a população. Até que um dia, Evey Hammond (Natalie Portman) sai de casa depois do toque de recolher e é abordada por policiais do Estado. Mas logo é resgatada por V (Hugo Weaving), um anarquista mascarado que procura uma forma de lutar contra o governo. Na mesma noite, ele leva Evey para uma cobertura para ver a explosão do Old Bailey, a grande Corte de Londres. Fazendo isso, o governo começa a procurar os culpados pela destruição de um dos maiores símbolos do país, mas o acidente desperta um novo sentimento na população.
V de Vingança faz tanto estardalhaço porque ele critica de uma forma subliminar e incentiva de uma forma direta. Embora estejam na Inglaterra do século XXI e não na Alemanha do século XX, vemos que o tempo todo o regime totalitarista é semelhante ao nazismo. Desde as cores da bandeira até as medidas feitas para controlar a situação. Também pode-se observar que as pessoas que foram afastadas da sociedade são inválidos, muçulmanos e homossexuais. O símbolo do filme, um V dentro de um círculo, é a representação do anarquismo. O filme em si é o resultado da Segunda Guerra Mundial se um terrorista com sede de explosões tivesse incentivado a população a se voltar contra Hitler.
Não preciso dizer que a atuação de Natalie Portman foi fantástica nesse filme, quase me fez chorar, pois tudo foi verdadeiro. Tentei me colocar na situação dela numa parte do filme, e acho que sentiria a mesma coisa. Fantástica a cena do corte de cabelo. Embora Hugo Weaving estivesse usando uma máscara durante toda a sessão e suas expressões não puderam ser vistas, fez um "herói" memorável, a interpretação e o gestual que ele usou no personagem foram bem trabalhados, isso sem contar nos diálogos excepcionais. Gosto desses filmes de ação no geral pois eles conseguem colocar um diálogo que gela a espinha no clímax, enquanto esse conseguiu durante o filme todo. Grande fotografia, e um belíssimo figurino. Agora que eu prestei atenção, vários filmes que eu tenho visto contém a belíssima Cat Power na trilha sonora, algo nela tem um atrativo imenso para a indústria do cinema.
Embora ele passe constantemente por cenas surreais e por efeitos muito bem feitos, o filme apresenta para nós algo capaz de ocorrer, algo que por mais revoltante que seja já ocorreu uma vez na história da humanidade. E pra isso, V de Vingança apenas instiga o modo de revolução mais rebelde, e consegue ser um sucesso estrondoso, através de uma ideia. História muitíssimo bem bolada.
NOTA: 8

23 de julho de 2010

O Bebê de Rosemary (1968)

Um filme de Roman Polanski com Mia Farrow e John Cassavettes.

O filme é uma confusão, mas uma confusão divertida de se assistir. É incrível a reviravolta que é feita durante a história, e é incrível porque Roman Polanski conseguiu moldá-la e trabalhá-la tornando-a impecável. E o mais incrível é que não foram necessários monstros saindo do armário ou espíritos com uma maquiagem assustadoramente boa. O que aparece n'O Bebê de Rosemary são 4 ou 5 segundos de mãos e os olhos estreitos do diabo. Os outros 135 minutos e 55 segundos ficam por conta do espectador, graças ao terror psicológico que esse diretor conseguiu trazer nesse filme.
Rosemary Woodhouse (Mia Farrow) e seu marido Guy Woodhouse (John Cassavettes) se mudam para uma estranha residência num velho prédio de Nova York. Logo eles percebem que seus vizinhos também não são pessoas muito normais. Mas quando Rosemary engravida, o marido começa a se envolver muito com os vizinhos, e ela começa a suspeitar que Guy vai trocar o filho dela pela sua carreira de ator, já que a vizinhança faz parte de um grupo de bruxaria.
A atuação não é lá essas coisas todas, mas Mia Farrow me chamou muito a atenção, depois que ela começa com suas suspeitas sua atuação fica incrível. Com várias facetas, ela consegue entrar no personagem durante o filme inteiro, e pra cena final ela ficou ótima. Melhor que ela só Ruth Gordon, que fez a incômoda Minnie Castevet. Ela se encaixou completamente na personagem, foi um show de atuação. John Cassavettes teve uma boa atuação, nada que mereça uma ressalva. O figurino ficou interessante, assim como a fotografia do filme e o jogo de luz usado.
A história é surpreendente. Roman Polanski começa a usar todas as suas artimanhas para fazer com que as suspeitas de Rosemary, por mais estranhas que sejam, virem verídicas. No meio do filme, ele faz o caminho na contramão, fazendo com que tudo que Rosemary fale seja infundado e que faça-a parecer uma mulher transtornada. E a reviravolta que ele faz no final é tratada com tanta calma e frieza que o faz um dos finais mais incríveis do cinema. Todo o terror criado durante a sessão é feito apenas por suposições e dúvidas, fazendo um efeito parecido com o proposto por Atividade Paranormal: o filme cria o terror psicológico, agora se o filme assusta ou não fica por conta do espectador.
Não é a toa que O Bebê de Rosemary seja considerado um dos maiores da história, páreo a páreo com grandes nomes, como O Exorcista, O Iluminado e Psicose. Mas ele conseguiu chegar ao topo sem mostrar demônios, espíritos, bruxas, vampiros, psicopatas ou lobisomens. E o resultado é tão bom que vale por si só dar uma conferida nesse grande nome.
NOTA: 9

O Exorcista (1973)

Um filme de William Friedkin com Linda Blair e Max von Sydow.

O Exorcista foi até hoje o único filme de terror a ser indicado a melhor filme na premiação do Oscar. E não foi à toa. Com alguns efeitos até revolucionários pra época, com uma edição de som magnífica, assim como maquiagem e figurino, com belas atuações e com uma história macabra que saiu da gravação para os cinemas, ele não perde seu lugar entre um dos melhores filmes de terror da história desde a época em que foi lançado até os dias atuais. É uma pena que a pérola só aconteça uma vez, o que explica as 4 péssimas continuações.
Chris MacNeil (Ellen Burstyn) é uma atriz que acaba de se mudar para Washington com sua filha Regan MacNeil (Linda Blair). Porém, após os primeiros dias, Regan adquire um comportamento estranho, sua personalidade muda completamente e ela começa a xingar. E daí só vai piorando. Enquanto a medicina vai achando respostas vagas para o comportamento da garota, ela vai se deformando cada vez mais. Até que a mãe, cansada de ver a filha desse modo, recorre à religião e ao exorcismo para livrar a garota do espírito que está nela.
A maquiagem do filme é ótima. O modo que Linda Blair ficou ao passar do filme foi irreconhecível. Desde as menores cicatrizes até os hematomas que aparecem na sua face, ficou perfeita. Os efeitos não ficam atrás, se lembrarmos que em 1973 não tinham todos os recursos que são usados hoje. Os efeitos sonoros ficaram grandiosos. A atuação deles não fica muito atrás. Linda Blair fez o melhor papel de sua vida nesse filme, se formos comparar a filmografia dela. Ellen Burstyn foi outro achado, perfeita no papel de Chris. Os padres também deram um show. Jason Miller e Max von Sydow me convenceram do começo ao fim na cena do exorcismo, particularmente, mais Miller do que von Sydow.
A história não consegue ser superada por qualquer outro filme de terror do dia de hoje: chova O Albergue, Turistas, Os Outros, [REC] ou A Vila. A maioria trata de coisas explicáveis, como serial killers. Os que não tratam ainda conseguem chamar a atenção. Mas O Exorcista conseguiu fazer o que nenhuma Samara poderia: misturar o duvidoso com o real. Eu não vou entrar em assunto de demônio ou espírito, não sei o que existe e o que não existe. Mas a partir do momento em que eles zombam da religião no filme, é que o brilhantismo do filme aparece. Hoje em dia a blasfêmia até está supervalorizada, mas pra mim uma masturbação com um uso de um crucifixo é o bastante para chamar a atenção de qualquer Igreja.
Friedkin conseguiu juntar o chocante com o subliminar e criar um filme clássico, sem banhos de sangue. E que conseguiu e consegue assustar muitas pessoas ainda hoje. Embora com efeitos que não chegam perto dos de hoje em dia, a história é algo que está anos-luz na frente de qualquer continuação dos Jogos Mortais.
NOTA: 9

21 de julho de 2010

Pulp Fiction (1994)

Um filme de Quentin Tarantino com John Travolta, Bruce Willis, Samuel L. Jackson e Uma Thurman.

Quentin Tarantino, influenciando desde 1992. O ano em que Cães de Aluguel foi lançado foi um ano de revolução para a indústria cinematográfica. Toda a ordem e os clichês do cinema foram mudados por esse diretor, que faz a ordem cronológica como quer, faz mistérios atrás de mistérios, cria um outro mundo cheio de influências e alfinetadas com várias mensagens subliminares e consegue, de uma maneira tão estúpida, falsa e exagerada, fazer o irreal virar real. Pulp Fiction, um dos grandes filmes da década de 90, é tão bom que chega ser difícil acreditar que é segundo trabalho de um diretor independente. E foi tão comparado com clássicos como Laranja Mecânica e Psicose que virou um clássico sozinho, sem o sucesso do clássico que virou o diretor.
Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) são dois assassinos que trabalham para um gângster chamado Marsellus Wallace (Ving Rhames). No dia em que o chefão está fora da cidade, ele pede para que Vincent cuide da sua esposa Mia Wallace (Uma Thurman). Paralelamente a essa história, está Butch Coolidge (Bruce Willis), um boxeador que é pago por Marsellus para perder a sua luta.
Grande roteiro. Com a mesma fórmula de outros sucessos que ironizam a violência, mas com o estilo de Tarantino. O que ele faz com a cronologia da história é simplesmente brilhante e nunca me cansa. O modo em que ele divide as partes da história sempre se juntando no fim para dar razão a um acontecimento do começo. E sempre com os mínimos e os máximos detalhes. As cenas e os diálogos completam o grande ritual imprevisível de Tarantino, enquanto numa hora Travolta e Thurman dançam numa discoteca, na outra ele se vê obrigado a aplicar uma injeção de adrenalina para ressuscitá-la de uma overdose. Os diálogos são brilhantes, embora alguns beirem a loucura e outros sejam o auge da filosofia, todos se encaixam perfeitamente. A história do pai de Bruce Willis, por mais absurda que seja, foi fantástica ao meu ver.
A atuação é ótima, exatamente o que poderia se ter de um bando de atores como esses. John Travolta fez um ótimo papel, sem mais nem menos. Me surpreendeu numa atuação impecável. E Samuel L. Jackson não fica atrás dele. Toda vez que ele citava a Bíblia eu estremecia com a fervorosidade que ele colocava no papel. Como falei numa resenha de Kill Bill, Uma Thurman fez uma personagem memorável, embora fosse apenas uma participação coadjuvante. Bruce Willis não chegou ao ápice deles, mas foi uma boa atuação. A fotografia é belíssima, assim como os figurinos e a maquiagem. É Tarantino, fazer o quê?
Uma trama bem bolada que se entrelaça, cenas imprevisíveis cheias de cores e referências, uma frieza com relação à comédia e o riso em relação à violência, isso mais a falta de cronologia, a ordem histórica, os mínimos detalhes, a realidade colocada no surreal e a ironia usada para se tratar tudo, não há o que colocar defeito nessa pérola de Tarantino.
NOTA: 10

O Segredo de Brokeback Mountain (2005)

Um filme de Ang Lee com Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway e Michelle Williams.

Se fosse uma história de amor entre um homem e uma mulher seria algo tão clichê que eu me cansaria na primeira meia hora. Mas a partir do momento que o par romântico principal são dois homens, Ang Lee consegue destrinchar o clichê e dar lugar para uma discussão. E é esse o mérito de O Segredo De Brokeback Mountain, por fazer uma história de amor com diálogos melosos e cenas românticas entre dois homens, que pelo preconceito existente na época se enganam para se dizer heterossexuais.
Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) são jovens que se veem juntos quando vão procurar um trabalho. O trabalho que conseguem então é ficar na montanha Brokeback vigiando ovelhas contra possíveis predadores durante algumas semanas. Porém, com a convivência e o isolamente, Twist e Del Mar se tornam tão amigos que acaba surgindo entre eles um relacionamento amoroso. E quando eles saem da Brokeback para voltar à vida de sempre, não conseguem seguir em frente graças ao amor que marcou suas vidas.
Ledger e Gyllenhaal dão um show de atuação aí. Me convenceram durante todo o filme. Enquanto Ledger fez o antissocial que pensa mais nos outros do que nele mesmo, Gyllenhaal fez o rapaz apaixonado e inconsequente. E os dois juntos fazem algo tão verdadeiro que dá mais pra acreditar nisso do que alguns outros casais de outros filmes. Anne Hathaway, embora coadjuvante, foi grande em seu papel, assim como Michelle Williams. A trilha sonora e a fotografia, muito boas.
A história é excelente. Como falei anteriormente, seria algo horrível se fosse um casal hétero no papel principal, um filme como qualquer outro. Mas a homossexualidade que fez o filme ser reconhecido e criou o preconceito no filme. Vemos que o tempo inteiro, Jack Twist não liga pro que os outros pensam e quer uma vida com Ennis Del Mar custe o que custar, é a paixão à flor da pele. Agora, pelo que Ennis Del Mar viu e aprendeu sobre gays, ele se importa mais do que o que os outros vão sentir do que na felicidade dele próprio, e é assim todo o tempo não só no relacionamento com Twist, mas também no com suas filhas. E o filme vai andando assim até achar um última conflito. Não havia outra maneira melhor do filme acabar, ao menos eu não imagino alguma.
O Segredo de Brokeback Mountain é uma história de amor como qualquer outra - mas gay. E não é por ter grandes atores, uma história romântica ou cenas eróticas que faz sucesso, e sim por tentar quebrar tabus em todos os lugares do mundo com a história de amor de dois homens. Talvez se fosse entre homem e mulher passaria tão batido que não seria nem ao menos indicado ao Oscar.
NOTA: 9

18 de julho de 2010

Corra, Lola, Corra (1998)

Um filme de Tom Tykwer com Franka Potente e Moritz Bleibtreu.

Entre tantas superproduções norte americanas, comédias brasileiras ou animações que passam hoje em dia nas salas de cinema, dois filmes (ou três, se tiver sorte) são filmes que não tem muito sucesso, de países europeus ou asiáticos e que na maioria das vezes são aclamados pelo universo alternativo. Eu não tenho muito contato com filmes da Dinamarca, Suécia, Japão, ou algum outro país que você possa imaginar que não esteja na rota de Estados Unidos - Inglaterra - Brasil. Mas a produção alemã, Corra, Lola, Corra consegue deixar a maioria desses filmes que estão passando no cinema no chinelo.
Lola (Franka Potente) é uma filha de bancário que tem que resolver um problema após receber a ligação de seu namorado Manni (Moritz Bleibtreu): Ele, que tinha que levar 100.000 marcos para um grupo de gângsters, perde a sacola com todo o dinheiro no metrô, o deixando entre a vida e a morte. Ele então, resolve roubar uma grande loja no centro da Alemanha para resgatar o dinheiro. Lola pede para ele não fazer isso e diz que consegue arranjar o dinheiro em 20 minutos. A partir daí ela começa uma correria para conseguir o dinheiro para o namorado e impedir que ele roube ou que o matem.
A história é incrível. Toda hora que a história de correria de Lola começa, as coisas sempre mudam, e a expectativa para ver o que se altera dessa vez é imensa. Por um esbarrão ela consegue evitar a morte de seu namorado, e por uma conversa ela consegue evitar a sua morte. É também bom ver que, independente do quanto Lola corre, a história das pessoas ao seu redor também muda.
Também gostei muito da atuação. Franka Potente, além de ser bem bonita de seu modo, é uma ótima atriz, o olhar que ela fazia quando estava com raiva expressava realmente tudo. Moritz Bleibtreu fica atrás, mas por pouco. A fotografia do filme é ótima, e a trilha sonora também. Pelo que vi nos créditos, Franka Potente cantou algumas canções durante o filme, incrível.
A indústria cinematográfica, seja uma produção Bollywoodiana ou mexicana, sempre nos surpreende de alguma forma. E o trunfo da alemã foi produzir esse grande filme que me deixa com vontade de conferir as outras pérolas que os alemãos podem nos trazer. E mostrar que uma Potente e um Bleibtreu brilham mais do que Carreys, Foxes e Cruises hoje em dia. E por mais que insistam em comparar com Efeito Borboleta, Corra, Lola, Corra merece ser assistido por seu brilho próprio, e não por uma outra produção com uma história parecida.
NOTA: 8

15 de julho de 2010

Magnólia (1999)

Um filme de Paul Thomas Andersson com Tom Cruise, Julianne Moore e Philip Seymour Hoffman.

Não gosto muito de comparar e de ficar repetindo isso. Mas Magnólia se encaixa perfeitamente na situação de Donnie Darko. Eu vi Magnólia de um modo que talvez você não veja e nem todas as conclusões sobre o filme são as mesmas. Mas, do modo que você for ver, duvido que você não se apaixone pela história, seja esta vista de um modo religioso ou filosófico, de um modo antropocêntrico ou apenas por diversão.
Earl Partridge (Jason Robards) é um produtor de televisão casado com Linda (Juliane Moore), e se encontra em estado terminal de câncer. Ele começa a viver com um enfermeiro, Phil Parma (Philip Seymour Hoffman) e então, num momento de desabafo, confessa que uma coisa que ele gostaria de fazer antes de morrer é poder falar com o filho que ele não vê há muitos anos, Frank Mackey (Tom Cruise), um homem que faz auto-ajuda para homens poderem controlar as mulheres. Do outro lado, encontra-se Jim (John C. Reilly), um policial divorciado que tem dificuldade em interagir com os outros, até que por um chamado ele conhece Claudia (Melora Walters), uma viciada que é filha do apresentador de TV Jimmy Gator (Philip Baker Hall), um homem que descobre que tem câncer num momento importante de sua vida, e se vê obrigado a deixar de lado a apresentação de seu programa "O Que As Crianças Sabem?", que teve como um dos grandes ganhadores nos anos 60 Donnie Smith (William H. Macy) e agora tem como principal atrativo uma criança prodígio, Stanley Spector (Jeremy Blackman), um garoto que sofre a pressão do pai para ganhar o programa a qualquer custo.
A história é grandiosa. Tudo se interliga de repente, durante o gran finale, embora as linhas da teia já estivessem feitas desde o começo da trama. E será que é uma coincidência ou uma ironia tudo se ligar de repente? Como falei anteriormente, Magnólia tem várias interpretações e todas são consideradas corretas porque Paul Thomas Andersson criou um mundo de respostas para esse filme, seja nas insinuações feitas em rodapés da tela, seja nas mensagens que insistem em aparecer a cada segundo. Magnólia é um filme tão simples que se complica no meio, e daí as pessoas começam a ver o que querem, seja um drama familiar natural ou uma chuva de sapos. Ótimo como todos os personagens se relacionaram, se não direta, indiretamente.
A atuação. Um filme com tantos atores bons conseguiu colocar uma atuação impecável em todos. Tom Cruise está ótimo, não vale nem a pena comparar com o último filme que eu falei, Encontro Explosivo. Adorei a atuação de Julianne Moore, adoro-a no geral, mas ela realmente se encarnou na hipocondríaca arrependida. Não me lembro de ter visto algum filme com Melora Walters, mas ela também foi ótima. Até o mais jovem do filme, Jeremy Blackman, me emocionou com a sua história de garoto não amado pelo pai. Achei a atuação de William H. Macy um pouco exagerada no começo, mas no fim vi que era bastante necessária para mostrar o quão perturbado emocionalmente ele é. A fotografia do filme está ótima, assim como a trilha sonora. Adorei a parte em que todos cantam Wise Up, de Aimee Mann.
Magnólia é confuso por sua simplicidade, mas no final a história é puxada de um modo que o nó se desfaz e o que se forma são outras cordas. E é exatamente isso que merece ser aclamado nesse filme, se eu vi abacaxis e você viu bananas, nós dois estamos certos, pois a obra é um leque de respostas e insinuações, e todas corretas.
NOTA: 10

14 de julho de 2010

Encontro Explosivo (2010)

Um filme de James Mangold com Tom Cruise e Cameron Diaz.

June Havens (Cameron Diaz) vive uma vida comum: mora em Boston com sua família e tem um emprego normal consertando carros. Porém sua vida muda drasticamente depois que ela esbarra com Roy Milles (Tom Cruise) num aeroporto, pois ela começa a ser perseguida por membros de uma máfia espanhola e por uma equipe da CIA. No meio de toda essa encrenca ela se vê obrigada a fugir com Roy para um lugar seguro para proteger Zefir, uma fonte de energia ilimitada.
A história é a mesma de qualquer filme de ação mentiroso que existe por aí. Só que esse é tão mentiroso quanto todos os outros. Como assim uma pessoa sem treino nenhum como Cameron Diaz se levanta no meio de uns 30 agentes com metralhadoras e não é atingida por nenhum tiro? Como assim ela consegue dirigir por 5 minutos na contra-mão com Tom Cruise tapando sua visão? Desculpa, mas tem um certo nível para as mentiras e esse filme ultrapassou isso. De resto, eles tentam ser engraçados e conseguem na maior parte. Mas as piadas ficam escrachadas no geral.
A atuação é boa, até. Tom Cruise e Cameron Diaz são bons atores, mas Encontro Explosivo é que não é um bom filme, o que acaba com qualquer atuação digna de Oscar. Não consegui gostar de Tom Cruise, mas aí é minha culpa. Se ele passa um filme inteiro de espiões rindo como um idiota, eu não gosto dele. Se ele passa um filme inteiro de espiões com um aspecto bem sério e sem emoção alguma, acho péssimo. Minha sugestão? Que parem de fazer esses filmes. A fotografia ficou bonita, a trilha sonora foi boa, a maquiagem e o figurino também foram até bons. Mas de bons não passam, acho que ganham um 6 numa escala de 0 a 10.
Encontro Explosivo pode ser descrito naquela palavra maravilhosa que está presente em 2 de 5 críticas que eu faço: Clichê. Mas se pedissem para escrever outra, Mentirosa. É um filme legal para passar na sessão da tarde e entreter as crianças com explosões e cenas de ação. E até para dar uns risos. Mas para servir de filme exemplo, nunca.
NOTA: 3

11 de julho de 2010

O Pianista (2002)

Um filme de Roman Polanski com Adrien Brody e Thomas Kretschmann.

Um imenso, cruel, frio e verídico relato sobre a Alemanha nazista. E um clássico que merece estar nas listas de recomendações de qualquer locadora, aula de história ou filmes da década. Comparações não são muito boas, mas se necessário, preciso dizer que O Pianista é uma versão igual à Lista de Schindler, se formos comparar o retrato nazista que eles passam na época do auge da Segunda Guerra Mundial.
O Pianista conta a história verídica de Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody), um judeu que mantém sua família tocando piano. Porém, no dia em que a rádio polonesa foi destruída, ele começa a viver as dificuldade de ser um judeu no meio da Alemanha, de sofrer todo o preconceito e de não poder ter muito dinheiro graças à várias restrições. Ele acompanha e nos mostra com a sua visão o início da Segunda Guerra Mundial, a matança que ocorria nas mãos da Gestapo, a separação dos cristãos dos judeus em guetos, a ridicularização, até tudo seguir para o seu tão esperado fim.
A história não é linda. Muitos podem ter se emocionado com ela e com as lutas que Wladyslaw batalhou pela sua sobrevivência, e isso é realmente bonito, mas a história não é só isso. É uma atitude histórica que afetou e matou milhões, e embora nenhum dos meus antepassados tenha participado dessa chacina eu me envergonhei profundamente de ver a raça humana fazendo toda essa merda com eles mesmos. A filosofia ariana me enoja. E O Pianista cospe isso na cara, para que me enoje mais ainda. Ótimo.
A atuação de Adrien Brody está boa, ele sempre representa a felicidade em pessoa, apesar de estar em situações desumanas e morrendo de fome, ele continua com o aspecto otimista. Só vi ele mudando daquilo depois de tentar socorrer o garoto morto entre o muro do gueto. A fotografia é belíssima, o modo como ela mostrou o caos da guerra foi ótimo. E péssimo, ao mesmo tempo. O figurino e a trilha sonora, assim como a fotografia, fundamentais para o desenvolvimento do filme, e muito bem trabalhados.
Embora a maior nota que eu dê aqui seja aquelas esperadas 5 estrelas, esse filme merecia um 10. 5 estrelas por retratar o pior dos homens de um modo tão real que me emocionou e mais 5 por ter trabalhado com isso a história de um judeu felizardo, e ter conseguido virar uma referência.
NOTA: 10

7 de julho de 2010

O Terminal (2004)

Um filme de Steven Spielberg com Tom Hanks e Catherine Zeta-Jones.

Esse é um bom filme para se ver com a família, para rir, para chorar, se emocionar. Para todas as idades, com toda a certeza. A cena mais erótica apresentada é uma aproximação dos rostos de Hanks e Zeta-Jones. O Terminal é um filme bom, mas mal aproveitado. Não que eu possa esperar algo de um filme da Dreamworks. Não me levem a mal, não é um ódio pelo Dreamworks, e sim o estereotipo que ela apresenta: Todos tem inimigos mas no final todo mundo se torna amigo, todos se dão bem no fim, o mocinho aprende um monte de coisas ao longo do filme e tem altas aventuras com seus amigos. E não que eu deseje o mal dos outros, mas alguém poderia morrer num filme desses. Ou ao menos se beijar. Ou começar algo com base.
Viktor Navorski (Tom Hanks) é um homem que acaba de vir da Krakozhia para os Estados Unidos. Porém, enquanto ele estava viajando, o país sofreu um golpe de estado e ele não poderia ser mais considerado um Krakozhiense. Resumindo: ele não poderia voltar, pois não era mais considerado um cidadão do país de origem do mesmo modo que não poderia sair, pois o passaporte dele perdeu o valor graças a revolução. A partir daí ele fica no meio termo entre a Krakozhia e os Estados Unidos, num terminal de aeroporto esperando que alguém resolva sua situação.
A história é algo digno de contos de fadas, exceto por um único detalhe: Hanks não fica com Zeta-Jones. Isso pode até ter sido o ápice da história pra mim, mas o resto ficou igualzinho a qualquer história da Disney. Com pontadas de comédia que fazem as crianças do recinto rirem com algumas tentativas de passar uma mensagem um pouco falha. Com uma história dessas, de um homem preso num terminal durante 9 meses, o filme poderia ser muito mais aproveitado. Me desculpem se alguém entendeu esta parte, mas o que leva um homem cansado no meio da noite a construir uma parede sem nem saber se íam pagá-lo? Não consigo acreditar nem em perfeccionismo nessa hora.
A atuação foi ótima. Tom Hanks está grande no filme, não vi falha nenhuma. Zeta-Jones me convenceu no final, mas não no começo. Stanley Tucci me convenceu no começo, mas não no final. O resto teve uma boa atuação, mas nada tão bom que tenha enchido meus olhos. A trilha sonora é boa, assim como figurino. Belo cenário, ficou perfeito. A fotografia se salvou em várias partes do filme, mas não tenho o suficiente para dizer que ela foi boa, deixo-a mediana.
O Terminal pode passar numa sessão da tarde tranquilamente, após um almoço de domingo para a vovó e os netinhos rirem juntos e terem algo o que comentar no jantar. Mas não sei como conseguiram supervalorizar tanto esse filme, já que ele tem a mesma fórmula que tantos outros exibidos por aí.
NOTA: 6

5 de julho de 2010

Eclipse (2010)

Um filme de David Slade com Robert Pattinson e Kristen Stewart.

O engraçado de ver todos os filmes da saga Crepúsculo é ver a visão que os diretores tiveram de cada filme. Enquanto o primeiro parece ser uma produção independente até pelo modo de filmagem, o segundo parece ser algo bem hollywoodiano, cheio de efeitos, brilhos, vivacidade nas cores e clichês por toda parte. Eclipse é algo bem mais Hollywood, mas não chega a ter tantos efeitos quanto seu antecessor, Lua Nova. Além do mais, o que os outros filmes tiveram de ação e de cenas de lutas, esse tem de sentimentos, emoção, um romance bem água com açúcar. O que eu achei estranho, pois pelo livro, Eclipse tem muito mais cenas de lutas que qualquer outro da saga.
Bella Swan (Kristen Stewart) tem de lidar com muitas coisas nessa nova etapa da sua vida. Embora a formatura de sua escola esteja chegando, ela tem mais com o que se preocupar: um exército de vampiros recém-criados está a solta na cidade de Seattle, vizinha a Forks, onde ela reside. Além disso, sua inimiga Victoria (Bryce Dallas Howard) está a solta e ainda procurando vingança. E para complicar ainda mais, seu namorado Edward Cullen (Robert Pattinson) quer que ela se case com ele, mas ela ainda está confusa sobre seus sentimentos pelo seu melhor amigo, Jacob Black (Taylor Lautner), inimigo natural de Edward, pois esse é um vampiro e aquele um lobisomem.
A história é baseada no livro, isso é fato. Mas o filme quis passar algo totalmente diferente. Eclipse é onde a maioria das decisões sobre a vida amorosa de Bella ocorrem, OK. Mas o livro exibia muitas páginas sobre sangue, guerra, luta e tudo mais. Não reclamo que Eclipse tinha que ser focado em mortes para todo o lado, o que reclamo é que as partes onde a guerra deveria estar focada perdeu o nexo para dar lugar a um triângulo amoroso Bella-Edward-Jacob. Além do mais, numa tentativa de ser bem fiel ao livro, o filme ficou apressado e não conseguiu dar explicações para muitas coisas que ocorreram.
Atuação. Bem, querem saber como anda Kristen Stewart? Olhem para o pôster. E visualizem isso por mais ou menos duas horas, essa foi a atuação dela, algo bem medíocre se comparado ao excelente trabalho que ela fez em The Runaways. Robert Pattinson também me pareceu bem sem expressão no filme. Taylor Lautner conseguiu salvar algumas partes, mas se afunda mais do que salva. Talvez a atuação de Dakota Fanning seja boa, mas por ser uma co-coadjuvante não se percebe muito bem. Gostei um pouco de Bryce Dallas Howard, mas nada para ser idolatrado. A fotografia ficou ótima, e os figurinos e a maquiagem ficaram grandiosos. A trilha sonora salva boa parte do filme. É ótimo ter algo para salvar aquela monotonia, e eu achei bom colocaram Bat For Lashes, Sia e Dead Weather alternando entre o instrumental de uma música do Metric.
Eclipse é um bom filme - acho que o melhor da saga até agora - mas não serve para muita coisa. Talvez para divertir um fim de semana ou para adolescentes histéricas passarem mal por ver o Taylor Lautner sem camisa, mas não convence como romance, que foi exatamente o que ele quis passar com todas as frases melosas e momentos bonitos num campo florido ou numa barraca no meio da neve.
NOTA: 5

Quero Ser John Malkovich (1999)

Um filme de Spike Jonze com John Cusack, Cameron Diaz, Catherine Keener e John Malkovich.

Nunca fiquei tão confuso em relação a um filme. Nunca parece ser muito longe, então mudarei para não me lembro. De qualquer modo Quero Ser John Malkovich tem uma história bem confusa com uma mensagem bem confusa, e os dois no auge dessa confusão conseguem explicar algo tão sólido que eu achei inacreditável. O filme, embora com a sua história louca e exagerada em muitos pontos, com uma trama confusa e complicada que te faz perder os momentos anteriores e com vários detalhes sobre as mínimas coisas, é incrível. Não dá pra descrevê-lo, talvez um dos sonhos mais selvagens que alguém já teve, e isso que Quero Ser John Malkovich tem do original: passar exatamente a loucura para a tela, sem tirar nem por, para passar uma mensagem ironizada durante o filme todo.
Craig Schwartz (John Cusack) é um titereiro que vive com sua esposa obcecada por animais, Lotte Schwartz (Cameron Diaz), numa pequena casa. Um dia ele consegue um emprego de arquivista no andar 7,5 de um prédio, onde, pelo fato do teto ser baixo, as pessoas andam encurvadas. Procurando um arquivo que cai atrás de uma estante ele acha uma porta que faz quem entrar nela ser transportado para a mente do ator John Malkovich durante 15 minutos, sendo jogado numa estrada de Nova Jersey após o tempo estimado. Então, com a ideia de sua esposa e de sua companheira de trabalho Maxine (Catharine Keener), ele vende por U$200,00 a entrada para o cérebro de John Malkovich.
Quantas vezes já nos pegamos pensando "Nossa, como queria ser fulano"? É exatamente isso que Spike Jonze critica em sua belíssima obra. Vemos uma fila imensa para pessoas estarem no corpo de John Malkovich em 15 minutos - seus 15 minutos de fama. Mas isso é a fama mesmo? O fato é que o nome de alguém promove outra coisa mais interessante do que ele. John Malkovich pode ser a pessoa mais banal do mundo e vemos no filme que muitas pessoas que convivem com ele mal sabem quem ele é. Um ator, mas meio apagado. Quem é John Malkovich com seus grandes e menosprezados papéis de um drama perto de Tom Cruise em suas chatíssimas Missões Impossíveis? Mas o povo ainda insiste. Quero ser John Malkovich, eles dizem. Quero sair da minha vida chata e tediosa ao extremo para entrar no corpo de um galã, por mais que a vida desse galã seja mais chata do que a sua. O povo insiste no sentido da banalização de pessoas públicas. Não é mais a sensação de acompanhar as diversas notícias polêmicas sobre tal famoso, e sim a sensação de ser o famoso. Mas qual a graça disso?
A atuação é ótima. Cameron Diaz está incrível e irreconhecível como Lotte e eu realmente não conseguiria entender quem me dissesse que a atuação dela em As Panteras foi melhor. John Cusack ficou ótimo no ápice da loucura de um titereiro que tem obsessão em ser outra pessoa. Afinal, sua loucura já começa aí. Sua profissão, vista como medíocre, o promove para um ser humano que vive às custas de seu boneco, que finge diversos personagens para poder ganhar a vida. E aí surge sua obsessão em ser outra pessoa. Catharine Keener não fica atrás, conseguindo se dar bem e nunca perder a pose ou a posição, além de ter uma interpretação magnífica. A fotografia, figurino e a maquiagem são bons, assim como o cenário e a direção.
Quero Ser John Malkovich é original, e isso já salva qualquer coisa. Eu fecho o site que falar que é um filme clichê, pois não seguiu nada do clichê de sempre mas conseguiu criar uma trama onde todos se dão bem - embora alguns se deem mal e não se deem conta - e com tantos detalhes que se ligam para formar uma teia ainda mais maluca.
NOTA: 9

2 de julho de 2010

Tocaia (1987)

Um filme de John Badham com Richard Dreyfuss e Emilio Estevez.

CLICHÊ, cli.chê, s. m. 1. Chapa metálica onde está reproduzida em relevo uma imagem destinada à impressão; 2. Chapa fotográfica negativa; 3. Frase ou expressão muito repetida, lugar-comum; 4. Colocar definições de dicionário para criticar, parece uma generalização; 5. Filme do modelo da Sessão da Tarde: atores bonitinhos sem qualquer atuação marcante, com uma história previsível do início ao fim, fim esse que acaba da maneira mais esdrúxula imaginável, além de várias tentativas brochantes de uma comédia escrachada e erros bem perceptíveis ao longo da sessão.
Christopher Leece (Richard Dreyfuss) é um detetive que é convocado junto com seu parceiro Bill Reimers (Emilio Estevez) a procurar uma ex-presidiário que acaba de fugir da cadeia com auxílio do seu primo. Como o FBI acha que a primeira pessoa que o fugitivo vai procurar é a namorada, Maria McGuire (Madeleine Stowe), os detetives são convocados a fazer uma tocaia na casa dela para registrar qualquer coisa suspeita. O problema é que o detetive Leece, acabando de sair de uma separação, se apaixona pela suspeita.
A atuação não é ruim, mas chega muito longe de ser boa. É completamente mediana, nada de emoções ao máximo ou algo assim. A chance de Madeleine Stowe de se mostrar uma boa atriz foi por água abaixo na cena em que ela deveria parecer chocada, e ao invés disso deu um sorrisinho. A dos outros dois atores principais não me surpreendeu em nenhum momento. Quando eu falei que era um filme Sessão da Tarde, eu não estava brincando. É fácil descobrir a trama principal: mocinho se apaixona por mocinha mas para impressioná-la ele mente, mocinho e mocinha vivem momentos "super engraçados" juntos, mocinho conta a verdade para mocinha que fica chocada e acaba tudo, mocinha entra em perigo, mocinho a salva e os dois ficam juntos para sempre. Óbvio a partir dos primeiros 10 minutos de filme. O filme é de 3 décadas atrás, certo, mas ainda assim consigo classificá-lo clichê.
A fotografia não é especial em nada, a maquiagem não me surpreendeu em nada e o figurino não tem nada de mais para me oferecer. A trilha sonora chega até a ser boa, mas graças à tentativa cômica do filme ela se perde completamente.
Eu posso usar demais essa palavra e ela pode até não se encaixar em alguns momentos de ira, mas aqui eu tenho certeza que ela se encaixa perfeitamente. Se eu pudesse resumir Tocaia em apenas uma palavra, não tenho dúvidas de qual eu usaria, a palavra que esse filme respirou, falou e me mostrou do começo ao trágico fim: CLI-CHÊ.
NOTA: 5